segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sem Título

Bota a dor no papel, poeta. Escreve tudo em prosa, porquê poesia, assim como o mundo, é fumaça. Sua dor é pedra, é prosa, é tudo que existe de verdade. Bota no papel, poeta. Porque sabemos que não vai passar. Que vai continuar latejando em seu pescoço. Você vai continuar bebendo demais, pensando demais, fumando demais. E os remédios que você toma uma hora acabam. E o sangue que você tira do seu braço uma hora para de jorrar. Mas o papel está lá. Bota no papel, Tadeu. Que não apaga a ferida tão cedo. Mas uma hora adormece. Bota no papel. Porque você não consegue mais chorar.

Outro poema do livro.

"Visceral"
(ou "Meu Spleen")

desse testamento que não foi lavrado
o nada que é o nada
e se deixa existir em meios.

de memórias exaustas
que escapam aos milhões;
guardo anos e cartas
são souvenirs do oblívio.

das coisas que me são caras:
seu Baudelaire, meu Pessoa.
ambos roídos, são traças e vermes.

do tempo, que é pai do esquecimento;
da apatia, filha da solidão;
do descaso esse,
que é te sentir tanto,
que é querer metade.